sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Resenha: Ordem e Progresso - P. P. F. Simões


Sinopse: Samantha Albuquerque com veemente esforço conquista o sonhado diploma de pós-graduação e finalmente surge a oportunidade tão esperada para trabalhar em sua área, assim que é contratada a ingressar no IMCSP (Imigrantes da cidade de São Paulo). Não obstante, todos os países do mundo começam a sofrer fenômenos naturais e sobrenaturais causando um grande alvoroço na mídia escrita e virtual, nas conversas pelos corredores de multinacionais e nos bares de esquina. Com exceção ao único país que parece ser isento desta estapafúrdia, sendo a nossa pátria amada. E sem se dar conta, seja a própria personagem ou o governo brasileiro, Samantha terá que se virar sozinha numa repartição pública sem nenhum recurso, esbarrando na burocracia constantemente, ficando impotente em ajudar os novos imigrantes que em nosso país não cessam em chegar, que atravessam as fronteiras com o único objetivo de sobrevivência. Entrementes, a história é narrada por uma terceira pessoa apaixonada por Samantha, demonstrando seus histéricos surtos de ciúmes no decorrer do relato até o momento em que a personagem é pedida em casamento pelo então noivo Albertino. O narrador quer a todo o momento convencer o leitor com argumentos retóricos, acusando o noivo de traição e racismo, de que ambos não podem ficar juntos. Augusto Comte escrevera: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Esse pensamento positivista é, de maneira inusitada, o lema nacional de nossa pátria amada, estampada como símbolo na bandeira do Brasil e conhecido por todos. A protagonista Samantha Albuquerque tenta desvencilhar-se em meio a clichês sociais, questões contemporâneas brasileiras e uma sociedade dominada pelos seus próprios mitos, para obter sua ordem, seu progresso e seu amor, num relacionamento que poderia muito bem ser convencional. 

Num livro cheio de sarcarmo e ironia, Plínio Filho faz uma denúncia disfarçada de romance ao governo brasileiro e aos próprios brasileiros.

Samantha é uma mulata que indignada com as injustiças que acontecem a sua volta, resolve mudar o que ela puder, mas o que não vão faltar são dificuldades para isso. Destemida, humanitária e justa, a personagem tenta conciliar o trabalho, sua vida e seu namorado bastante conservador com a esperança de mudar o país.

O autor nos apresenta e nos abre os olhos ao conservadorismo que mal percebemos, mas continua bastante presente na nossa sociedade. Diferenças entre classes sociais, cor e sexo. Sociedade em que a mulher trabalha mais, mas recebe menos que os homens. Sociedade onde a cor da pele é considerada antes do caráter e onde órgãos públicos funcionam tão mal quanto as pessoas que nele trabalham.

''- Não vejo a hora de casarmos e termos nossos filhos. - Ela sorriu tanto, que mais um pouco fraturaria o maxilar. - E você cuidando da casa e dos filhos. Digo, que você nem precisa trabalhar. Com o salário que eu ganho como engenheiro na montadora alemã de carros, aqui no Brasil, vou poder até mesmo comprar uma nave espacial pra gente passar nossa lua de mel no espaço. E outra, eu já estou indicado pela multinacional para daqui a três anos, assumir um posto da mais alta hierarquia na Europa. - Sua voz sibilava como a de todos os homens orgulhosos com seus próprios egos recém saciados.
- Eu não quero passar minha lua de mel no espaço! - Ela exclamou bravamente e veemente assustou o garçom trazendo seu adorado repolho. - Não quero sair do Brasil e nem virar uma dona de casa. Sou mulher e não escrava!
- A função da mulher é cuidar da casa e do homem.
- A função da mulher é ser feliz. E estando dentro ou fora de casa, não me torna menos ou mais mulher.'' Pág 28.

Juro que comecei a leitura com um pé atrás, julgando o livro antes de ler... achei que seria ou mais um livro patriótico ou um livro de denúncia das mazelas do Brasil, mas o livro vai muito além disso! P.P.F. Simões tem uma escrita extremamente inteligente que faz você se dar conta de que vive em um ninho de cobras onde autoridades só se importam se a bebida está gelada o suficiente ou se o terno está bem passado.

É realmente uma leitura carregada de ''tapas na cara'' que ironiza desde o futebol brasileiro ao tratamento dado aos imigrantes. Acho que depois de tudo isso, duvido que você queira ficar as cegas ao invés de correr e ler ''Ordem e Progresso''!.

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