sexta-feira, 14 de junho de 2013

Resenha: O Farol do Porto da Paz - Kelly Cortez


Sinopse: Toninho e sua família moram diante de um belo cenário litorâneo brasileiro: o Farol de Touros, no Rio Grande do Norte. Diante dele, a família Paiva vive momentos angustiantes e marcantes inesquecíveis para o menino doce e sonhador. Mesmo contra as aspirações do pai, que pertencia à Marinha e desejava o mesmo futuro para o filho Toninho parte do litoral nordestino para ser um grande correspondente internacional. Já formado, Tonny Paiva cobre os primeiros ataques no Iraque como um reconhecido profissional. Ao se deparar com inúmeros acontecimentos em meio à guerra, o audacioso jornalista revê seus conceitos e relembra de sua infância, o que impactará em suas atuais decisões.

Tão imprevisível quanto as ações humanas são as situações que a vida nos faz destrinchar.  

É impossível você ler algo que está presente ou esteve presente no seu cotidiano e não se identificar. Para mim, isso foi fácil pelo cenário nordestino a que Kelly aplica aos personagens e as maneiras de agir que muito difícil eu vejo em outros livros nacionais. 

O livro é dividido em duas partes. A primeira, Kelly nos apresenta a família de Toninho. Conhecemos Roberto (o personagem que mais me deu raiva nos últimos tempos). Roberto é machista e é um típico conservador. Faz da vida da sua família um inferno, não dando amor e atenção que é indispensável para uma boa convivência familiar. Ele trabalha na Marinha do Brasil e a forma de tratamento (sempre respeitar pessoas acima de você, não sair dos ''trilhos'') que ele recebe no trabalho ele traz para casa. Vamos descobrindo que tudo isso é somente uma pose do personagem, que no fundo ele não tem um coração tão duro. 

Roberto é casado com Mônica, uma mulher meiga, doce e ingênua. Sempre colocando o marido e os filhos acima de tudo. É uma mulher simples, que conhece pouco da vida. Casou-se com Roberto para sair de casa e se livrar dos maus tratos que o pai a fazia sofrer. Pobre Mônica, pois Roberto era igual (se não pior) que o pai. 

Temos a irmã mais velha de Toninho: Marta. Marta é gordinha, não é vaidosa e é um pouco mimada. Se ofende facilmente com os insultos na maioria das vezes do seu irmão: Marcos. O garoto é sempre brincalhão e não sabe filtrar as atitudes e o que diz. Roberto teme o futuro do garoto e usa e abusa da violência para tentar fazer com que o garoto entre nos eixos e não se torne um futuro marginal. 

O próximo filho é Toninho. O rapazinho é bastante inteligente. Sempre ganhou destaque no colégio e seu pai já tem um futuro traçado para ele: ser seu sucessor na Marinha. Uma peculiaridade em relação a Toninho que vemos logo no início do livro: ele odeia comemorações de ano novo. O motivo? o garoto nasceu logo após a virada do ano e sua família sempre esquece do aniversário de Toninho, ou por estarem muito entusiasmados com a festa ou por estarem de ressaca da despedida e das boas vindas ao ano. Por fim temos o caçula Alexandre. Sempre colado na barra da saia da mãe. Magrinho e mimado. 

''A felicidade das crianças embaixo da sua varanda era emocionante, e ele não pôde conter as lágrimas. Mas os outros, os adultos, pareciam irracionais com todo aquele alvoroço anualmente repetido, com todas as metas anualmente traçadas.'' Pág. 18.

Vemos e conhecemos toda a luta sofrida que foi a infância de Toninho e de sua família devido aos constantes aborrecimentos do pai. Roberto já tinha traçado um futuro para cada um dos filhos e coitado de quem questionasse. Para ele, Toninho seria seu sucessor na Marinha e até então o menino aceitava, morrendo de medo de ir contra as vontades do pai. A visão do mundo que Toninho tinha muda quando Roberto compra uma televisão para a família. O rapazinho fica fascinado com o novo mundo que descobriu e decide: um dia seria famoso o suficiente para aparecer na televisão. E não era pela Marinha que iria conseguir isso. 

Quando atingem uma idade que os filhos começam a ter um pensamento maduro, eles veem o quanto da vida deixaram de viver por conta das vontades do pai. Essa revolta acabou gerando o aumento da violência doméstica cometida por Roberto. Muita coisa acontece e Toninho decide estudar e fazer vestibular. Eu consideraria isso um spoiler, mas ali na sinopse temos essa revelação... então Toninho decide que ira fazer Jornalismo para o desgosto, desespero e raiva do pai. Acreditem... já falei muito, mas não contei nem metade do enredo. Kelly constrói personagens humanos, palpáveis, errantes... numa estória triste e sofrida. 

Começa então a segunda parte do livro, que diz respeito a Toninho já formado e pronto para avançar e conquistar todos os seus objetivos. É ai que tudo começa. Toninho é mandado para o olho do furacão (ou Iraque em meio à guerra) para narrar a guerra junto com outros jornalistas.

''Eu nunca pensei muito em como vou morrer, é uma coisa da qual procuro me esquivar, sempre achando que será tão mais tarde, que não vale a pena ficar queimando neurônios ou purificando a alma com isso. Pensei nisso nas poucas vezes em que subi aos morros cariocas, onde as balas perdidas fazem vítimas inocentes a cada tiroteio. Mas nem mesmo no meu humilde pesadelo seria em um banco sujo de um carro velho, do outro lado do mundo.'' Pág. 268

A fluência da narrativa é muito boa, apesar de ser uma leitura densa. Acontece muita injustiça no decorrer da trama e você tem que parar um pouco para assimilar. Como já disse, é um livro triste mas transformador e belo. Apesar de ser uma ficção, considero ''O Farol do Porto da Paz'' um livro sobre crescer na vida, e tornar possível uma mudança. Quanto ao título fica mais gostoso de descobrir o verdadeiro significado no decorrer da narrativa. Muitas partes do livro são coisas bem poéticas, visando o bem estar próprio sem ser egoísta. A autora cria também partes engraçadas e bastante representativas no quesito família. A maioria do livro se passa em um cenário paradisíaco. Praia, areia, brisa, clima tropical... um clima rural. Por se passar nos anos 80/90, vemos um Brasil pouco desenvolvido no quesito tecnologia e locomoção. As diferenças sociais, raciais e sexuais eram bem acentuadas e muito bem tratadas no livro. Não sei se consigo exprimir a quantidade de emoções e pensamentos que pude ter no decorrer da leitura. É algo super válido e torno depois da minha leitura uma leitura obrigatória para quem procura um bom romance tendo como base a família. Kelly foi muito feliz ao escrever o livro. Finalizo aqui minha opinião, esperando que possa gerar muitas outras opiniões sobre este livro 5 estrelas

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